É a única portuguesa a fazer parte do ranking que elege os melhores Dj’s do mundo, tocou em 25 países e confessa que por enquanto tem mais sucesso lá fora do que em Portugal. Nesta entrevista, a DJ Sara Santini fala sobre vários assuntos, desde a sua vida profissional, influências, rotina e muito mais.
Olá, Sara. Apresenta-te aos nossos leitores.
Olá, o meu nome é Sara, tenho 27 anos, sou natural do Porto e trabalho como Dj profissional.
Em que países já atuaste?
A minha profissão tornou-me uma cidadã global, pois permite-me viajar pelo mundo. Denominar todos os que já visitei é algo que se tornou um pouco difícil, sendo que atualmente já recorro a uma cábula. De momento já são 25 países espalhados por diversos continentes, como a América, Europa, África e Ásia. São eles: Portugal, Espanha, Suíça, França, Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, Inglaterra, Marrocos, Angola, Índia, Omã, Nepal, Dubai, Tailândia, Malásia, Indonésia, Myanmar, Turquia, República Dominicana, México e Estados Unidos. Confesso que após estes anos, continua a ser uma conquista/desafio, sempre que sei que irei visitar um novo país.
Foste tocar a comunidades portuguesas no estrangeiro. Tens muitos fãs além fronteiras?
Suíça e Luxemburgo são de facto os países onde mais encontro comunidades portuguesas. Lá, a maior parte das vezes, é para elas que toco. No entanto, nesses mesmos países também já trabalhei com pessoas que nada têm a ver com o nosso país. Uma coisa é certa, onde há portugueses a festa é garantida.
“Uma coisa é certa, onde há portugueses a festa é garantida”
Há espaço para as mulheres nesta área? Sentes algum preconceito dos colegas homens?
Claro que há! Cada vez mais sinto que nós mulheres estamos a ganhar território nesta área. Cada vez mais presentes nos melhores festivais do mundo, assim como temos vindo a ser mais e mais reconhecidas pelo nosso trabalho. Prova disso também é a entrada constante de mulheres djanes no Ranking Top DjMag, que é imensamente conhecido, pois premeia principalmente os homens. O preconceito ainda está presente, mas considero que cada vez menos, felizmente. Mas ainda acontece, é um facto. Principalmente no momento de iniciar o meu set. O que acontece, por norma, no momento de transição alguns Dj´s residentes mantêm-se atrás, muito observadores, para constatar a veracidade das nossas capacidades. O interessante é no final do set, quando vejo a atitude dos homens a mudar de apreensão para aceitação. Confesso que me dá uma certa satisfação (risos).
Muitas vezes, as Djanes são mais conhecidas pela sua aparência física e não tanto pela qualidade dos seus sets. Também sofres com este preconceito?
Óbvio que sim, o tempo todo (risos). Mas o quê que isso vale? Obviamente, não nego que a imagem ajuda e muito, é um facto inegável. Principalmente no processo de marcação de shows, pois um bom flyer é sempre importante e quanto mais atrativo for, mais probabilidade existe em captar atenção das pessoas. No entanto, enquanto mulher e enquanto profissional desta área esforço-me para mudar essa mentalidade e mostrar que eu sou muito mais que isso, que existe muito além da minha imagem. Faço questão de mostrar que se pode ter o melhor de dois mundos, que se consegue ter uma imagem cuidada e interessante, mas que existe também caráter, personalidade e atitude. E eu faço questão de ser boa profissional no que faço, mais do que qualquer outra coisa.
“Não nego que a imagem ajuda e muito”
Que músicas um set teu não pode deixar de ter?
Sou super desligada de tendências. Não querendo dizer com isto que as minhas músicas não são atuais, até porque nesta área isso não é possível. Mas tenho especial gosto em tocar algo que traga memórias, que provoque sensações. Isso é o que mais me faz feliz. Quem não houve determinada música e associa de imediato a um determinado momento? É isso que gosto de despertar nas pessoas. Dependendo, obviamente, do tipo de público que tenho perante mim. Recuo algumas décadas e sirvo-me dos hits que as marcaram. De seguida, vou em busca de associá-las a beats atuais. A reação das pessoas perante músicas que já não ouviam há anos, e que de certo modo as marcaram, isso, é impagável.
Tens alguma imagem de marca? Alguma música que toques sempre no início, um movimento de dança…
Seria demasiado cliché se eu dissesse que cada espaço, público, momento é único e o que me caracteriza na realidade é a leitura que faço da pista no momento? A verdade é que há imensos fatores que influenciam a qualidade de um set. Nomeadamente o tipo de evento, tipo de público, a disposição do mesmo, assim como o warm up, etc. Posto isto, se eu tivesse algo previamente definido, estaria a considerar que seria um público “standard”. O que não acontece de todo, pois existem os fáceis de cativar e os mais desafiadores. No entanto, algumas músicas despertam reações universais, como por exemplo, certos ritmos e batidas que estimulam coreografias com palmas, lanternas de telemóvel, isqueiros. Depois é só deixar-me levar pelo flow e surpreender.
“Algumas músicas despertam reações universais. Depois, é só deixar levar-me pelo flow e surpreender”
Quais são as tuas principais influências?
Existem pessoas que me inspiram essencialmente pela sua vibe e não pelo registo musical. A música é algo muito, muito pessoal e então acredito que “beber” de várias fontes é o mais enriquecedor enquanto DJ. Admiro artistas com capacidade de mover multidões pela sua energia. Se tivesse que apontar a minha maior influência enquanto Djane, claramente seria Juicy M. Pois considero-a ousada no seu método de trabalho, pelos seus outfits, interação com o público, e forma dócil com que expõe a sua família, nunca colocando em causa o seu profissionalismo.
Se te dessem a oportunidade de fazer um “feat” com quem quisesses, quem escolherias?
Pergunta difícil, mas teria curiosidade em trabalhar com a voz do cantor Frank Ocean e unir o seu estilo R&B alternativo, com uma voz mais Pop, mas inquestionavelmente poderosa como a da Beyoncé.
“O teu mundo” sofreu uma grande baixa com a morte do Avicii. Achas que vai mudar algo?
Na minha perspetiva não foi apenas uma perda física, mas sim uma perda de um conceito, de uma vertente, de uma inovação. Acredito sim que irá despertar a consciência de muitos profissionais desta área pois, de facto, o nosso estilo de vida é demasiado subestimado. Poucas horas de sono, voos atrás de voos, consequentemente o nosso melhor amigo jet-lag, refeições fora de horas, constantemente de mala ‘às costas’, cansaço físico e uma panóplia de situações que existem por detrás da tela.
“A morte do Avicii não foi apenas uma perda física, mas sim uma perda de um conceito e de uma inovação”
Tens 79 mil fãs no facebook e 23 mil seguidores no Instagram. Que utilização fazes das redes sociais?
É inegável que nos dias de hoje a comunicação que é feita através das redes sociais é viral. Vendo pelo lado positivo, desta forma conseguimos atingir países e pessoas, que de outra forma jamais seria possível. Esta é a utilização principal que faço delas, abranger o máximo de pessoas para poder mostrar o meu trabalho.
Sentes que é importante para o teu trabalho ter uma presença forte nas redes sociais?
Permanecer ativa nas redes sociais é a forma mais rápida e direta de comunicar com o meu público. Mantê-los a par das minhas atividades diárias, dos meus novos projetos, comunicação de próximas datas, assim como partilhar fotografias e sentimentos relativos ao evento anterior. Não desvalorizando o facto de que, através delas, consigo obter feedback do meu trabalho, que é essencial para mim enquanto construção de pessoa e artista.
DJ Sara Santini: “Onde há portugueses a festa é garantida”