ENTREVISTA
Olá, Sara. Apresenta-te aos nossos leitores.
Olá, o meu nome é Sara, tenho 28 anos e sou natural do Porto.
Fazes do deejaying a tua principal atividade?
Sim, sou Dj profissional e como tal essa é a minha única atividade.
Que países já visitaste graças a esta tua ocupação?
A minha profissão tornou-me uma cidadã global pois permite-me viajar pelo mundo.
Denominar todos os que já visitei é algo que se tornou um pouco difícil sendo que
atualmente já recorro a uma cábula. De momento já são 25 países espalhados por
diversos continentes…América, Europa, África e Ásia. Portugal, Espanha, Suíça, França,
Luxemburgo, Bélgica, Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, Inglaterra, Marrocos, Angola,
India, Omã, Nepal, Dubai, Tailândia, Malásia, Indonésia, Myanmar, Turquia, República
Dominicana, México e Estados Unidos. Confesso que após estes anos, continua a ser uma
conquista/desafio, sempre que sei que irei visitar um novo país.
Foste tocar a comunidades portuguesas no estrangeiro? Tens muitos fãs além
fronteiras?
Suíça e Luxemburgo são de facto os países onde mais encontro comunidades
portuguesas. Lá a maior parte das vezes é para elas que toco. No entanto, nesses
mesmos países também já trabalhei com pessoas que nada têm a ver com o nosso país.
Uma coisa é certa, onde há portugueses a festa é garantida.
Há espaço para as mulheres nesta área? Sentes algum preconceito dos colegas
homens?
Claro que há! Cada vez mais sinto que nós mulheres, estamos a ganhar território nesta
área. Cada vez mais presentes nos melhoresfestivais do mundo assim como temos vindo
a ser mais e mais reconhecidas pelo nosso trabalho. Prova disso também é a entrada
constante de mulheres djanes no Ranking Top DjMag que é imensamente conhecido pois
premeia principalmente os homens.
O preconceito ainda está presente, mas considero que cada vez menos, felizmente. Mas
ainda acontece, é um facto. Principalmente no momento de iniciar o meu set. O que acontece, por norma, no momento de transição alguns Dj´s residentes mantêm-se atrás,
muito observadores, para constatar a veracidade das “nossas” capacidades. O
interessante é no final do set, quando vejo a atitude dos homens a mudar de apreensão
para aceitação. Confesso que me dá certa satisfação. 🙂
Muitas vezes, as Dj mulheres são mais conhecidas pela sua aparência física e não tanto
pela qualidade dos seus sets. Também sofres com este preconceito?
Óbvio que sim, o tempo todo ahaha. Mas o quê que isso vale? Obviamente não nego que
a imagem ajuda e muito, é um facto inegável. Principalmente no processo de marcação
de shows pois um bom flyer é sempre importante e quanto mais atrativo mais
probabilidade existe em captar atenção das pessoas. No entanto, enquanto mulher e
enquanto profissional desta área esforço-me para mudar essa mentalidade e mostrar
que eu sou muito mais que isso. Que existe muito além da minha imagem. Em que faço
questão de mostrar que se pode ter o melhor de dois mundos, que se consegue ter uma
imagem cuidada e interessante, mas que existe também carácter, personalidade e
atitude. E eu faço questão de ser boa e profissional no que faço, mais do que qualquer
outra coisa.
Que músicas um set teu não pode deixar de ter?
Sou super desligada de tendências. Não querendo dizer com isto que as minhas músicas
não são atuais… Obviamente nesta área isso não é possível. Mas tenho especial gosto
em tocar algo que traga memórias, que provoque sensações… Isso é o que mais me faz
feliz. Quem não houve determinada música e associa de imediato a um determinado
momento? É isso que gosto de despertar nas pessoas. Dependendo obviamente do tipo
de público que tenho perante mim, recuo algumas décadas e sirvo-me dos hits que as
marcaram. De seguida, vou em busca de associa-las a beats atuais. A reação das pessoas
perante músicas que já não ouviam há anos, e que de certo modo, as marcaram, isso é
impagável.
Tens alguma imagem de marca? (Alguma música que toques sempre no início, um
movimento de dança, etc)
Seria demasiado cliché se eu dissesse que cada espaço, público, momento é único e o
que me caracteriza na realidade é a leitura que faço da pista no momento?
A verdade é que há imensos fatores que influenciam a qualidade de um set. Nomeadamente o tipo de evento, tipo de público, a disposição do mesmo, assim como o
Warm up, etc.
Posto isto, se eu tivesse algo previamente definido, estaria a considerar que seria um
público Standard. O que não acontece, de todo, pois existem os fáceis de cativar e os
mais desafiadores. No entanto, algumas músicas despertam reações universais como
por exemplo, certos ritmos e batidas que estimulam coreografias com palmas, lanternas
de telemóvel, isqueiros… Depois é só deixar-me levar pelo flow e surpreender.
Quais são as tuas principais influências?
Existem pessoas que me inspiram essencialmente pela sua vibe e não pelo registo
musical. A música é algo muito, muito pessoal e então acredito que “beber” de várias
fontes é o mais enriquecedor enquanto DJ. Admiro artistas com capacidade de mover
multidões pela sua energia. Se tivesse que apontar a minha maior influência enquanto
Djane, claramente seria Juicy M. Pois considero-a ousada no seu método de trabalho,
pelos seus outfits, interação com o público, e forma dócil com que expõe a sua família,
nunca colocando em causa o seu profissionalismo.
Se te dessem a oportunidade de fazer um feat com quem quisesses, quem escolherias?
Pergunta difícil… mas teria curiosidade em trabalhar com a voz do cantor Frank Ocean
e unir o seu estilo R&B alternativo com uma voz mais Pop mas inquestionavelmente
poderosa como a da Beyoncé.
“O teu mundo” sofreu uma grande baixa com a morte do Avicii. Achas que vai mudar
algo? (Ele queixava-se da vida stressante das tour)
Na minha perspetiva não foi apenas uma perda física, mas sim uma perda de um
conceito, de uma vertente, de uma inovação. Acredito sim que irá despertar a
consciência de muitos profissionais desta área pois de facto, o nosso estilo de vida é
demasiado subestimado. Poucas horas de sono, voos atrás de voos, consequentemente
o nosso melhor amigo jet-lag, refeições fora de horas, constantemente de mala “ás
costas”, cansaço físico e uma panóplia de situações que existem por detrás da tela.Tens 78 mil fãs no facebook e 23 mil seguidores no Instagram. Que utilização fazes das
redes sociais?
É inegável que nos dias de hoje a comunicação que é feita através das redes sociais é
viral. Vendo pelo lado positivo, desta forma conseguimos atingir países e pessoas, que
de outra forma jamais seria possível. Esta é a utilização principal que faço delas,
abranger o máximo de pessoas para poder mostrar o meu trabalho.
Sentes que é importante para o teu trabalho ter uma presença forte nas redes sociais?
Permanecer ativa nas redes sociais é a forma mais rápida e direta de comunicar com o
meu público. Mantê-los a par das minhas atividades diárias, dos meus novos projetos,
comunicação de próximas datas, assim como partilhar fotografias e sentimentos
relativos ao evento anterior. Não desvalorizando o facto de que através delas, consigo
obter feedback do meu trabalho que é essencial para mim enquanto construção de
pessoa e artista.
Costumas receber mensagens estranhas/caricatas/engraçadas? Partilha algumas
connosco?
Como o nível de exposição é bastante maior, a probabilidade de isso acontecer é
acrescida. Recebo de facto, muita coisa que me arranca sorrisos e até gargalhadas,
outras nem tanto. 😉
Contudo a que mais me surpreendem são pedidos de casamento.
Quando não estás a passar música, o que fazes com o teu tempo livre?
Se não estou em tour, e estou por Portugal, o que gosto de fazer é manter a minha rotina
o mais normal possível. Gosto essencialmente da sensação de acordar cedo e fazer do
meu dia produtivo. Então por norma, tomo o meu pequeno almoço bem cedo e vou
treinar. Durante a tarde acabo por focar o meu tempo em reuniões, emails,
desenvolvimento de projetos, trabalhos em estúdio… tentando nunca despender das
minhas horas de sono, visto que em trabalho essa parte é inevitavelmente descurada.
Como vai ser o teu verão? Quer a nível pessoal e profissional?
Verão é sinónimo de festas, diversão, alegria, ou seja… de muito trabalho. É a altura do
ano que somos mais requisitados para os mais variados tipos de eventos. Portanto
trabalho, muuuuuuito trabalho felizmente, é o que se resumirá o meu verão pois nesta
época acabamos por não saber distinguir semana do fim de semana e acabamos por trabalhar muitos dias consecutivos com muitos kms pelo meio. Obviamente irei tentar
despendê-lo também com amigos e família, jantares, praia e claro, muita diversão.
Uma vez que já visitaste tantos países profissionalmente, há alguma viagem de sonho
que ainda queiras fazer se sim, para onde?
Claro que sim. Por muitos países que já tenha visitado, a maior parte deles são
maioritariamente cosmopolitas. A minha profissão também me obriga a ritmos
alucinantes e de grande stress. Sendo que optaria facilmente por destinos paradisíacos.
Então, tenho muita curiosidade em conhecer as Maldivas.
Quando estás em digressão, tens tempo para conhecer alguma coisa dos países onde
estás?
Na verdade, o tempo que fico em cada cidade é muito limitado. No entanto, sinto-me
bastante felizarda pois as pessoas que me recebem no aeroporto têm sempre grande
satisfação em dar-me a conhecer a sua cidade, cultura e gastronomia. Tento conhecer
ao máximo de acordo com o tempo que tenho, mas por norma, viajo no dia seguinte, o
que não me permite explorar como gostaria.
Já tiveste algum imprevisto antes durante ou depois de uma atuação, algo que tenha
fugido ao normal?
Algo muito natural nesta área, uma vez que viajamos constantemente, corremos
variados riscos no que diz respeito a transporte. Muitas vezes corremos contra o tempo
pois há coisas que não estão sobre nosso controlo como atrasos ou cancelamento de
voos, trânsito, entre outros. Confesso que já aconteceu algumas vezes pensar que não
chegaria a atuar por esses motivos. Felizmente foram muito poucas as que não consegui
cumprir, apenas dois por cancelamento de voos.
Já aconteceu também falha do material que coloca em causa completamente o nosso
desempenho, daí a necessidade de sermos exigentes com o nosso Rider Técnico. Por fim,
a situação mais caricata até então foi o momento em que sou apresentada ao público,
em que me dirijo à cabine tropeçando, desastrosamente, sobre uma imensidão de cabos,
tornando a minha entrada em palco M-E-M-O-R-Á-V-E-L.Na tua página de Facebook está lá informação sobre prémios que já recebeste. Falanos disso.
São prémios da Revista Djanemag, que como profissional da área fico obviamente
lisonjeada por os receber. Como referido anteriormente, a revista em questão premeia
mundialmente os 100 melhores Djs e Djanes. Num meio com cada vez mais concorrência,
fico particularmente feliz por ser também a única djane portuguesa neste tão importante
e famoso Ranking, a par de grandes artistas de renome a nível nacional como o Kura e
Diego Miranda. O nome do nosso país está lá, quão orgulha posso eu ser por esse feito?
Sentes que és mais conhecida lá fora ou em Portugal?
A verdade é que o conceito musical do nosso país abrange poucos estilos. Foca-se
essencialmente no público que mais está disposto a frequentar espaços noturnos, que é
o que está entre os 16-24 anos de idade. O registo musical na qual eu trabalho é mais
apreciado no estrangeiro. Posto isto, inquestionavelmente sinto-me mais forte a nível
profissional fora do que no meu país.